Azul anuncia suspensão de voos para 12 cidades em meio a redesenho estratégico
Quem costumava depender da Azul para viajar por cidades do interior do Brasil vai precisar replanejar rotas a partir de março de 2025. A companhia aérea informou que deixará de operar voos para 12 municípios, entre eles Barreirinhas (MA), Cabo Frio e Campos (RJ), Correia Pinto (SC) e destinos do Nordeste como Crateús, São Benedito e Sobral. Essa decisão, que surpreende moradores e viajantes dessas regiões, é parte de um enxugamento sem precedentes na malha aérea da empresa.
A suspensão não se resume a cidades menores do interior. Há mudanças também para quem sonha conhecer ou revisitar o paraíso de Fernando de Noronha: os voos passarão a operar exclusivamente a partir de Recife, e não mais de outros aeroportos. Já quem deseja ir a Juazeiro do Norte terá de conectar via Campinas, no principal hub da Azul. Essa estratégia busca concentrar as operações nas rotas que realmente trazem resultados, eliminando trajetos deficitários.
Foco em rentabilidade e menos dívida
Essas mudanças chegam junto com a nova fase financeira da Azul. Após atravessar um período marcado pelo desequilíbrio das contas, a empresa concluiu uma reestruturação de peso: eliminou cerca de US$ 1,6 bilhão em dívidas e levantou US$ 525 milhões em novos aportes. Com isso, o custo com juros deve cair cerca de R$1 bilhão por ano a partir de 2025, abrindo espaço para fôlego no caixa e menos pressão sobre operações deficitárias. Os novos recursos também visam proteger a Azul das altas do dólar e dos custos que explodiram com a desvalorização do real, algo que afeta toda a aviação nacional.
À frente da estratégia está o CEO John Rodgerson. Ele foi direto: "Não vou continuar voando onde estamos perdendo dinheiro." Para o executivo, o cenário mudou demais desde a fundação da companhia, em 2008, e a ordem agora é priorizar rotas rentáveis e maximizar eficiência. Isso significa menos voos para lugares de baixa demanda e mais energia onde realmente há ganho.
Aposta alta ou saída arriscada? Nas projeções da Azul, 2025 será um ano de recordes: receita estimada de R$ 20 bilhões e um EBITDA (lucro antes de impostos e depreciação) de R$ 7,4 bilhões — um salto de 40% em relação aos números pré-pandemia, em 2019. O recado é claro: mesmo cortando alguns destinos, a empresa acredita que pode crescer mais forte e lucrativa.
Essas mexidas ocorrem enquanto a Azul e Gol negociam um possível casamento de gigantes. O Grupo Abra, gestor das operações da Gol e também proprietário da Avianca, já assinou um acordo inicial para analisar a integração com a Azul. Se sair do papel, a fusão pode redesenhar de vez o cenário da aviação brasileira.
Para os passageiros atingidos, a Azul já faz contato direto para remanejar viagens ou reembolsar quem preferir. A promessa é manter a qualidade do serviço e adaptar a capacidade à nova realidade do mercado, sem cair no velho erro de voar vazio só para "marcar presença". Mudou o tempo e, pelo jeito, mudou também a lógica das companhias aéreas no Brasil.