A Fictor Holding Financeira anunciou na segunda-feira, 17 de novembro de 2025, uma operação ambiciosa: a compra do Banco Master S.A., instituição financeira em dificuldades, com um aporte imediato de R$ 3 bilhões. O plano era transformar o banco em um novo player nacional, renomeado como Banco Fictor, com diretoria nova, conselho reformulado e uma estrutura de distribuição própria — algo que o Banco Master nunca teve. Mas o que parecia um golpe de mestre virou um mistério. No dia seguinte, terça-feira, 18 de novembro, o Banco Central do Brasil anunciou a liquidação extrajudicial do Banco Master. De repente, o acordo desapareceu. A pergunta que fica: será que a Fictor já tinha tudo planejado — ou foi pega de surpresa?
Um grupo que cresceu com o agronegócio e agora quer o banco
A Fictor não é um conglomerado qualquer. Ela cresceu com financiamento a produtores rurais, hoje tem cerca de 6.000 funcionários, e nos últimos 12 meses emprestou mais de R$ 1 bilhão em créditos consignados. Seu braço alimentício, a Fictor Alimentos, já fatura R$ 100 milhões por mês e está na bolsa. Em 2022, lançou a FictorPay, uma fintech voltada ao produtor rural — e em outubro de 2025, sofreu um furto de R$ 24 milhões por um ataque cibernético à plataforma da startup Diletta. Isso não foi um detalhe menor. Foi um sinal de alerta: mesmo com dinheiro e ambição, a Fictor ainda lida com riscos operacionais sérios.Seu nome mais conhecido, porém, é o esportivo. Desde março de 2025, a Fictor é patrocinadora master da Sociedade Esportiva Palmeiras, com investimento anual de R$ 30 milhões. A marca aparece no uniforme do time principal, feminino e de base — e até o torneio sub-17 passou a se chamar Copa Fictor. É uma estratégia clara: construir credibilidade de marca entre milhões de torcedores, enquanto avança em setores mais complexos, como o financeiro.
Quem é o novo presidente? E por que ele importa
A Fictor não escolheu alguém da casa. Indicou Antônio Oliveira Neto, ex-executivo do JPMorgan, Santander e HSBC. Um nome de peso. Um homem que já lidou com crises, fusões e regulatórios em escala global. Ele seria o rosto do novo banco — e talvez o único capaz de convencer clientes e reguladores de que o Fictor não é só um patrocinador de futebol com dinheiro fresco."A união dos atuais produtos com a capilaridade de distribuição da Fictor levará o novo banco ao protagonismo", disse Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master. Ele sabia que o banco estava em apuros. A distribuição dependia de plataformas como XP e BTG — algo que o mercado considera frágil. A Fictor prometia uma rede própria, serviços para clientes corporativos, gestão de fortunas e até acesso a investidores internacionais. O plano era bom. Mas a hora era ruim.
A liquidação que veio do nada
O Banco Central não costuma agir assim. Liquidação extrajudicial é um passo extremo, usado quando há risco iminente de colapso, fraude ou falta de capital. O fato de ter sido anunciado um dia depois do anúncio da compra levanta suspeitas. Será que o BC já tinha evidências suficientes para agir antes? Ou a Fictor, ao revelar sua intenção, acelerou a decisão do regulador?Pessoas próximas ao assunto, citadas pelo O Tempo, dizem que a liquidação extingue a possibilidade da transação. Mesmo que a Fictor tenha assinado um termo de intenção, sem o Banco Master como entidade legal, não há o que comprar. O consórcio, que incluía investidores dos Emirados Árabes Unidos com mais de US$ 100 bilhões em ativos, não pode adquirir um banco que já foi dissolvido. É como tentar comprar um carro que foi destruído antes da negociação.
A Fictor não comentou publicamente o anúncio do BC. Mas Rafael Góis, sócio da holding, havia dito antes: "Seguimos alinhados às melhores práticas de governança, com foco na economia real". Agora, a pergunta é: a economia real foi enganada? Ou o BC agiu para proteger depositantes antes que fosse tarde demais?
O que fica? E o que não foi comprado
Importante: a operação não incluía o Willbank nem o Banco Master de Investimentos. Esses dois braços estão sendo negociados separadamente. Isso sugere que o Banco Master original era uma estrutura complexa — e talvez intencionalmente desgarrada para isolar riscos. O que a Fictor queria era o núcleo de operações bancárias tradicionais: contas, empréstimos, cartões. O resto, não.Além disso, a Fictor não é nova em mergulhar em setores problemáticos. Em Minas Gerais, já atua com marmitas, cartão de crédito e até projetos de hidrogênio verde. Seu site diz: "impulsionar negócios sustentáveis que fortaleçam a economia". Mas será que sustentabilidade inclui bancos que estão à beira da falência? A resposta pode vir nos próximos meses — se a Fictor tentar recomeçar com outro banco, ou se o BC abrir espaço para uma nova licitação.
Por que isso importa para você
Se o acordo tivesse sido aprovado, milhões de brasileiros poderiam ter visto uma nova instituição bancária — com mais concorrência, mais produtos e menos dependência de plataformas externas. Mas com a liquidação, o mercado perdeu uma oportunidade rara. E os clientes do Banco Master? Eles agora estão em limbo. O BC garante que os depósitos estão protegidos, mas a confiança? Isso leva anos para reconstruir.Essa história não termina aqui. A Fictor ainda tem dinheiro, ambição e uma marca forte. E o mercado financeiro brasileiro ainda precisa de novos players. O que acontecerá nos próximos 90 dias — se a holding tentará outra aquisição, ou se o BC vai abrir um edital para reestruturar o Banco Master — será o verdadeiro teste de sua seriedade.
Frequently Asked Questions
O que acontece com os clientes do Banco Master agora?
Todos os depósitos dos clientes estão protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), até R$ 250 mil por pessoa por instituição. O Banco Central está gerenciando o processo de liquidação, e os clientes receberão instruções sobre como resgatar fundos ou transferir contas. Não há risco de perda de dinheiro, mas serviços como empréstimos e cartões estão suspensos até nova ordem.
Por que o Banco Central não bloqueou a compra antes?
O BC não tem poder para bloquear negociações antes da formalização, mas pode agir se identificar risco sistêmico. O fato de a liquidação ter sido decretada no dia seguinte sugere que havia indícios de insolvência já conhecidos, mas não tornados públicos. A Fictor pode ter sido informada de forma privada — ou não. A transparência ainda é um ponto em aberto.
A Fictor ainda pode entrar no mercado bancário?
Sim. A Fictor pode apresentar um novo pedido de autorização para criar um banco do zero, ou tentar adquirir outra instituição em dificuldades. A entrada no setor não está vetada — apenas a operação com o Banco Master foi anulada. O mercado aguarda se a holding manterá seu plano ou recuará após o revés.
Qual o impacto da Fictor no Palmeiras agora?
O patrocínio ao Palmeiras segue normal. O contrato de R$ 30 milhões ao ano é independente da operação bancária. A marca continua no uniforme e na Copa Fictor. Mas há preocupação entre torcedores: será que o nome da equipe será associado a um escândalo financeiro? A diretoria do clube ainda não se posicionou, mas a imagem da Fictor pode ser afetada — e isso pode influenciar futuras renovações.
O que foi feito com os R$ 3 bilhões anunciados?
Nenhum valor foi transferido. O anúncio era de uma intenção de aporte condicionado à aprovação regulatória. Como o Banco Master foi liquidado, o dinheiro nunca saiu da conta da Fictor. Os investidores dos Emirados Árabes Unidos, que estavam prontos para participar, provavelmente estão reavaliando sua exposição ao grupo, especialmente após o incidente da FictorPay e agora este episódio.
Há risco de outros bancos serem liquidados por causa disso?
Não há indícios de risco sistêmico. O Banco Master era pequeno, com ativos de menos de R$ 10 bilhões, e já estava sob supervisão reforçada. O BC agiu como um cirurgião, removendo um tumor — não como um incêndio. Mas o caso serve de alerta para outros bancos regionais com governança frágil: a era de operar na sombra acabou.